31 de outubro de 2010

Tão, tão aborrecida...

Que seca de fim-de-semana. Tantos planos todos furados. Aqui estou feita eremita com uma gripe de caixão à cova, aborrecida com o tempo, aborrecida de enfado. Dói-me o corpo, tenho o nariz fluorescente de Rudolph barrado a creme gordo, enfio Antigrippines como doida, tomo pastilhas de vitamina C como quem bebe sumo. Ontem plantei-me ao estilo zombie em frente da televisão. Vi um documentário sobre gente gorda e magra e fiquei a saber que o meu gene dos 50 kgs é uma anormalidade evolutiva e que eu não sobreviveria a um período de fome generalizada. Portanto, o ser humano é biologicamente programado para ser mais anafadinho. Vi três episódios de uma nova série da Fox Life, "Parenthood" e vi as novas do OE em tudo o que é canal. A meio da tarde fiz um mini-bolo de chocolate no microondas mas como não tenho olfacto nem paladar bem podia estar a comer plástico que devia ser igual ao litro. A pilha do controlo do alarme entregou a alma ao criador e tive de me trancar à maneira antiga quando subi para dormir. O raio da hora mudou e eu acordei quinhentas vezes a olhar para o relógio e a pensar quando é que o tempo passava que estava farta de estar na cama.

Estou insuportavelmente chateada...

30 de outubro de 2010

Acordei como... crap

O Pai-Avô faz anos hoje. Há festa surpresa em casa da Mana com bebé Manel a sair da cartola dos presentes. E a Tia Bá acorda desgraçada com dores de garganta, moída do corpo (e não foi das duas sessões de ginásio de ontem) e a respirar por uma narina. Aaaaargh! Com mil milhões de macacos despenteados, isto não é justo! Tinha de ser logo hoje???? Aqui vou ficar em prisão domiciliária o dia todo, não é justo!! Não é justo!!

Ai que raiva!!

29 de outubro de 2010

Acordei como Natal

Há neblina nos montes em frente da casa. A luz difusa cinzenta está molhada pela chuva. Sinto-me a acordar no dia de Natal. Não sei porquê o paralelismo mas é esse o primeiro pensamento. Sinto-me feliz de Natal. Imagino, lá longe na cidade, o bebé Manel a ser levado para casa. Imagino a Mana a entrar pela porta com aquele embrulhinho de gente. Hoje deixo-os em paz de presépio. Estou feliz aqui na distância neste dia pardo e meu.

28 de outubro de 2010

PhD fashionista

E lá estavam elas na primeira fila da sala às 8.30 da matina, ambas com um lenço ao pescoço com o mesmo nó que vieram perguntar à Prof. como se fazia. É, eu devia mesmo era ter seguido moda! Agora dei em trendsetter, tá visto!
Acho que vou começar uma série: episódios hilariantes da vida docente. God!
:)

27 de outubro de 2010

Ai não há acordo?

Pois não haja. Muita bulha por nada, já dizia o Shakespeare. No fim de contas, o PSD vai abster-se, o OE vai passar, a derrapagem nas contas vai continuar, o susto vai ser esquecido e nós aqui continuaremos a encanar a perna à rã em vez de enfrentarmos os problemas. E, como sempre, este será o eterno país adiado, permanentemente suspenso na corda bamba. Um país falhado, alegre na mediocridade. Um país de enganos estendido ao sol. Somos assim há tantos séculos porque é que iríamos mudar?

O que só me admira (ainda) é o ego fenomenal desta gente, a falta de sentido do bem comum, a capacidade de mentira e teatro e, arrisco até dizer, o prazer que lhes deve dar sentirem na palma das mãos os destinos de um povo. O poder deve ser, de facto, uma droga que cuidado com ela...

Proudly presenting

O Manuel.
3.223kgs de gente com pressa para nascer. Veio antes do tempo, apanhou a Tia Bá num dia cheio de aulas, estragou os planos da festa de aniversário do Avô, em suma, novo Escorpião apresenta-se ao serviço e já cheio da sua micro personalidade (estamos fritos!).
E o que é que a Tia Bá tem para dizer? Pois... a Tia Bá pensava que ia ficar histérica de emoção, a Tia Bá pensava que lhe iam sair palavras grandiloquentes e o que é que aconteceu? A Tia Bá emudeceu pura e simplesmente. Caiu-lhe o coração aos pés quando saiu da primeira aula da manhã e, de repente, havia um Manel já gente algures num berço num hospital de Lisboa. E a Tia Bá que pensava que os primeiros pensamentos fossem pensamentos de Manel saíram-lhe pensamentos da Mana. A Tia que pensava que passava instantaneamente a Tia continuou irmã e isso alegrou-a. O Manel pode vir, mas a Mana já cá estava e a Mana é a coisa mais adorada na vida da Tia. E foi ver a Mana mãe o que mais pasmou a Tia no dia em que o Manel nasceu.
O primeiro e, até à data, único recém-nascido que eu vi foi exactamente a Mana e agora entro de novo num quarto de hospital e, em vez de ver a Mãe e um bebé, vejo a Mana e um bebé, isto sim, isto é que é avassalador. Saíram-me as emoções ao contrário. Emoções felizes e estranhas na sua novidade. Vejo-os aos três ali no quarto, a vida que lhes começa como família, e deixo-me flutuar na margem. Sou bem-vinda e adorada mas aquilo são eles e é deles. Aquilo é a Mana, a Mana que tem um embrulhinho de gente pequenina e quentinha nos braços e eu fico tão feliz por isso.
O que é que a Tia Bá tem para dizer? A Tia Bá agora prefere sentir do que dizer...
Olá Manel! Sê tão bem-vindo!

25 de outubro de 2010

E quem é que eu vi no Hard Talk da BBC?

O nosso caríssimo António Guterres, United Nations High Commissioner for Refugees. E não é todos os dias que temos um português na BBC e muito menos é todos os dias que temos um concidadão no Olimpo das agências internacionais. Além de não ter ouvido nada de que o mundo não saiba (ou pelo menos nada de novo) a respeito de refugiados e migrantes, a minha questão é: mas que diabo é o papel da ONU? Tirando os Land Rovers brancos e a Angelina Jolie, o que é que a ONU consegue fazer pelos refugiados?
Sinceramente? Acho que, infelizmente, nem vale a pena verbalizar a resposta. Sinto, cada vez mais, que a ONU é uma espécie de monarca constitucional: está lá mas não pode nada.

Lembrei-me da barriga

Sabes Mana, da última vez que me mostraste a tua super-barriga de fim de tempo fiquei com a sensação de que havia qualquer coisa que eu não sabia explicar. Pensei que talvez fosse por ainda não abarcar bem a ideia de que vás ter um filho ou porque lá dentro está o Manel que eu não conheço mas conheço e isso é emocionante. O facto é que deixei de pensar e não dei muita importância àquela sensação.
Ontem lembrei-me. Mana, lembrei-me tão claramente! Eu já tinha visto aquela barriga e a sensação inexplicável foi o déjà vu. A tua barriga que eu vi foi a barriga da Mãe contigo lá dentro. Por isso eu fiquei sem saber o que estava a sentir. Não associei, até ontem. Lembro-me tão bem da barriga da Mãe. Igual à tua, sabes? Redonda enorme, a mesma pele descorada, o mesmo umbigo que parece um tracinho. Sobretudo a pele, igual. Ó Mana, sabes que a Vida é a coisa mais fenomenal de todas?

24 de outubro de 2010

Mal estamos...

Mal estamos quando o "nosso" melhor amigo é um ditadorzeco de meia-tigela que nos vem dar umas patacas a troco de um computador com nome de navegador.

Surpresa doce


Entro em casa por entre compras de bróculos e batata-doce. Há um cheiro doce no ar a canela e qualquer coisa morna. Chego à cozinha. Sobre o fogão borbulha uma calda de veludo e pedaços de fruta amarelada. A Paula desce dos seus afazeres e vem explicar-me o que está ao lume: uma compota de marmelos que, pela promessa, eu vou comer e chorar por mais.
É verdade: estou a chorar por mais...
(Abençoada mulher!)

23 de outubro de 2010

E se não fosse o Verão de S. Martinho


... eu não teria acabado de pintar as molduras de 10 janelas, um par de portadas e duas portas exteriores! Abençoado! Uma camada de primário, uma demão de tinta e duas de protector vezes o janelame e portame todo e eis o trabalho completo (ou quase, faltam três janelas a que não chego nem de andaime à prova de Blonde mais a porta principal). Estou tão orgulhosa! F#$%...

22 de outubro de 2010

Se não fosse a M80...

Eu já me tinha esquecido disto... And this makes me happy. Jimmy Sommerville and The Communards, "Never Can Say Goodbye", para o people se animar, nem que seja com a pimbalhice do vídeo, a insensatez dos anos 80 ou os falsetes impossíveis. :)

21 de outubro de 2010

Momento twilight zone 2

Teixeira dos Santos à RTP:
- Portugal está em crise porque foi "CONTAMINADO" pela conjuntura dos mercados internacionais.

Ja, somos umas vítimas de contaminação. Nós até estávamos na maior, o raio da contaminação é que foi tramada. A culpa foi da Gripe A e do diabo das vacinas erradas que comprámos. Tivéssemos um stock de vacinas anti-contaminação e nada disto acontecia. Azar do caraças.

Mais Teixeira dos Santos à RTP:
- Este Orçamento não pode ser só para português ver.

Sim, Sr. Ministro, é óbvio que isto é só para "inglês" ver. Aliás, é mesmo a pensar nos "ingleses" que o OE foi pensado. Os mesmos "ingleses" que daqui a uns meses nos vão dizer: "Ja, pois e tal, são precisas mais medidas".

Ainda Teixeira dos Santos (irritado com as acusações delirantes e infundadas de que a classe média é que paga a crise):
- Estamos a falar de 500.000 pessoas com os rendimentos mais altos.

Obrigada, Sr. Ministro. Fogo, é cá um privilégio. Bolas, isto sim, é que é. Mas, já agora Sr. Ministro, fez bem as contas, é que os 9 e tal por cento do meu salário que vão à vida NÃO correspondem qualitativa ou quantitativamente aos 10% de corte num salário correspondente a 10 vezes o meu. Onde anda a proporcionalidade, hein? Falhou a pilha na calculadeira? Ah, espera, foi o programa EXCEL que tinha aquele vírus contaminado, não foi?
Enfim, momentos hilariantes em prime time... Ele há lá melhor serviço à Nação do que pôr o povo a rir? Eu então ando divertidíssima. faz cá um bem às rugas...

Momento twilight zone

Após aula denominada séria:

- Ó Professora posso falar-lhe em Português? É que aprendi uma coisa nova na aula.
- Sure, go ahead. Diga lá. - Blonde sorrindo a pensar no conhecimento maravilhoso que passou às gerações futuras e em como ser professor ainda é uma alegria nos tempos que correm.
- É assim que a Professora dá o nó no seu lenço? Aprendi agora, é assim? Veja lá.
- ?!



É, passou-me ao lado uma carreira na moda...

20 de outubro de 2010

Sonhei contigo

que ainda não chegaste.
Povoas as nossas vidas há oito meses. Vens para nós e és parte de nós. Antecipo-te. Imagino-te. Adivinho que não herdes os nossos genes recessivos nem os olhos azul-transparente da Avó. Serás tu na mistura do teu pai e da tua mãe. Talvez sejas um bocadinho meu e eu amo-te por seres o filho da Mana, da minha irmã, da pessoa que eu amo como filha, que eu vejo sempre como criança alegre, a criança que me veio fazer companhia na vida e que eu mal consigo imaginar vá ter agora um filho - Tu.
Sonhei contigo, como tenho sonhado nestes últimos dias em que aí estás escondido. Sonho com o que te vou dizer quando te ver pela primeira vez. Sonhei contigo, como sonho com a Mana nesse dia em que chegares e avassalares as nossas vidas com a tua presença. Sonho contigo sem te ver a cara. Nem sequer sei imaginar-te no grande que os médicos te estão a vaticinar. Não sei como é o tamanho de um bebé grande. Mas imagino-te e penso como será a tua personalidade, a tua voz de criança, as perguntas que nos farás, as coisas que quererás saber. E eu quero responder-te e abrir-te horizontes. Quero ver a curiosidade nos teus olhos líquidos, como o são os olhos das crianças.
Sabes, sinto uma pontinha de ansiedade todos os dias nestes dias antes de nasceres. Uma coisa boa e meio nervosa ao mesmo tempo. Falta tão pouco. Tão pouco...

19 de outubro de 2010

E agora nem sequer vai ao Parlamento!

Sim, senhora! E onde está a decência, a hombridade, a espinha dorsal, a elegância, o carácter, já nem falo da mínima boa-educação? Então não é que o nosso PM prefere enfiar-se em Bruxelas a ficar por cá a discutir o OE no Parlamento? Claro, é sempre fácil deitar a bomba e fugir dos estilhaços. Além do mais, já sabemos todos que o OE vai ser aprovado, claro. Portanto, que interessa ficar por cá a ouvir mais do mesmo? O que é que interessa enfrentar uma Assembleia a franzir o sobrolho para ficar bem na fotografia? O que é que interessa ter de falar, apresentar justificações, responder a questões? Que conveniente ter Bruxelas na agenda justo quando se debate o OE.
E a estúpida aqui ainda pensava que entre Bruxelas e Nós, o PM escolhesse o Nós. Interrogo-me o que é que a História dirá destes tempos e, em particular, deste homem.

18 de outubro de 2010

Mudou o Jornal 2

Não mudam as notícias. Não muda nada. E eu acho que o país, no seu geral, está a chegar a um caso tão grave de delirium tremens que quanto maior a loucura melhor que é para ninguém estranhar.
Um dos novos pensadores residentes no tal de "Hoje", ou seja o novo noticiário da 2, para o caso o ex-Ministro Daniel Bessa, acha que para colmatar o défice se deveria privatizar o ensino superior. Eh pá, eu até acho que as propinas poderiam ser mais altas, mas privatizar o superior?! Depois está meio mundo banzo porque o Prof. Marcelo anunciou com pompa, circunstância e em prime time a recandidatura do Prof. Cavaco. Pergunto: mas onde está a admiração? Acaso alguém pensa que não há uma equipa de spinning por detrás desta manobra? E para acabar em beleza lá vem o papão da Alemanha com o multiculturalismo falhado. Ai falhou? Então, falhou lá como falhou aqui e na França e em todo o lado a começar pela grande e retalhada nação americana.
Mas porque é que eu ainda me dou ao trabalho de ver telejornais? Blonde Josefina, és mesmo burra! Burra, parva, masoquista e estupidamente ingénua. Dah!

É que além de burros são porcos


Achava eu, erroneamente pelo que vejo agora, que uma das marcas civilizacionais de um povo, uma nação, uma comunidade, se expressava no seu maior ou menor grau de higiene. Pois com este OE é o regresso ao tempo das cavernas que aí vem.
Alguém me explique, s.f.f. e devagarzinho, porque é que os básicos da higiene diária são taxados a 23%? E, já agora, porque é que a pasta de dentes do supermercado leva 23% de IVA e a de farmácia 6%? E, deuses, o papel higiénico?!
Ah, e já agora que andam todos muito entretidos a debater a revisão constitucional, que tal consignarem um artigo entre as liberdades e garantias dos cidadãos que preveja o direito sacrossanto à higiene, hein?
Eu ando cada vez mais parva com tudo isto...

17 de outubro de 2010

Blondelicious chocolate cake

Então é assim: a Zana enviou-me uma série de receitas de bolos feitos em três minutos no microondas. Disse que era para eu me aventurar na cozinha. Pois sim, Zaninha...
Ontem experimentei um de cenoura. A desgraça esperada... Parecia um queijo duro abatido no centro e todo esburacado da traça. Mas blonde que é Blonde não desiste ante a adversidade culinária. Hoje experimentei um de chocolate. Aldrabei a receita valentemente (blonde que é Blonde não consegue seguir receitas) et voilá:




Ingredientes:
1 ovo
3 colheres de sopa de azeite (o original dizia óleo mas isso não existe em casa de Blonde)
3 colheres de sopa de água (a receita dizia leite mas isso também cá não há)
2 colheres de sopa de chocolate em pó
2 colheres de sopa de açúcar (no original eram 3)
4 colheres de sopa de farinha
1 colher de café de fermento
Numa tacinha bater o ovo com um garfo. Depois juntar os líquidos, o chocolate e o açúcar e bater mais um pouco. A seguir juntar a farinha e o fermento e bater até ficar massa de bolo (esta aqui deu-me que fazer: a farinha virou milhões de bolinhas brancas e desfazê-las foi um sarilho, preciso dicas, s.f.f.). Levar a tacinha ao microondas na potência máxima durante 3 minutos.
Ficou... absolutamente delicioso. E eu fiquei... absolutamente parva por aquilo ter ficado um BOLO autêntico. Um bolo miniatura, é certo, mas um bolinho tão bonitinho.
Já era, nem uma migalhinha sobrou:)

15 de outubro de 2010

Vou ler

Até parece que nunca leio, eu que leio até os rótulos de tudo quanto é coisa comezinha. Leio porque os olhos não sabem sequer olhar sem ler. Mas enfim... Depois de três romances históricos de enfiada (Philippa Gregory, Anne O'Brien, Christie Dickason), decido que vou dar tréguas à escrita feminina e que me empaturrei do género pelos tempos mais próximos. Quero qualquer coisa nova. O pior é que os livros são como os vestidos: prateleiras deles e nada para ler. Passo os olhos pelas estantes da biblioteca. Centenas de livros novos vindos de todo o mundo, a carga que eu trago por esses aeroportos fora, e nada que me apeteça neste instante. Vou ao quarto. No banco corrido aos pés da cama os livros moribundos. Aqueles que já passaram pela cabeceira, que eu nunca acabei, que eu talvez nunca acabe mas que não tiro do quarto para não morrerem de vez (o eterno "Out of Africa", grande filme, uma seca de livro; "Mary Magdalen"; Melvyn Bragg; "Hier, wo wir uns begegnen" e mais umas resmas deles). Na estante do quarto os livros prioritários. Os que eu comprei com ânsias de ler logo, logo mas que, por algum acaso, deixaram de ser prioritários e eu já me esqueci porque os comprei. Na mesa de cabeceira ainda há dois ou três por acabar. Livros que ainda não se juntaram aos do banco dos pés da cama. Não sei mesmo o que vou ler. Não sei que livro abrir e acho a sensação do mais estúpida que pode haver.
Encontro-o. Capa preta. Escondido por detrás de um guarda-jóias no quarto. Nem me lembrava de o ter comprado. Uma tradução em Português de um original em Inglês. Ainda me pergunto o que é que me teria passado pela cabeça para comprar em Português um livro escrito em Inglês. Mas lembro-me vagamente de uma compra por impulso num centro comercial qualquer porque conhecia a colecção e queria continuar a ler um novo episódio de uma saga ao estilo Zimmer-Bradley.
Decido-me levá-lo para a cama. Leitura lenta e intrincada. Tenho de marcar a primeira página porque estou sempre a ir conferir informação. Gaita, eu queria ler por prazer e estou a ler com muita atenção para não me perder. Eu queria ler de chofre e isto vai demorar. Céus, tantos livros e nada para ler...

14 de outubro de 2010

Apetece-me

Apetece-me escrever... mas não sei o quê.
Apetece-me ler... mas não sei o quê.
Apetece-me ficar quieta... sem me apetecer.
Não sei mesmo o que me apetece mas que me apetece, apetece.

13 de outubro de 2010

Enquanto isto, no Chile


Eu desconfiei que a coisa deveria ser mega quando de cada vez que abria o Yahoo só me apareciam mineiros chilenos. Vou para a faculdade e os mineiros estão nas notícias da rádio no carro. Venho da faculdade e os mineiros continuam na rádio. Finalmente vejo as imagens e percebo a real dimensão do problema, do salvamento, da emoção, da globalidade em que se tornou um buraco no Atacama. Aquilo parece um parto das entranhas da Terra. Uma ninhada de gente parida em novo sofrimento. Um a um num parto multigemelar. E por esse mundo fora as mesmas reacções nos olhos das pessoas. E sem sabermos somos, afinal, tão iguais. Gaita, fiquei cá com um nó...

Mas ao menos

vencemos na Islândia e estamos na ONU. Eh valentes! Até parece o paraíso.

11 de outubro de 2010

Outra vez a marmelada


Pois é, as primeiras chuvas trazem a época das marmeladas, compotas e geleias. Por aqui já saiu a primeira panelada de marmelada (até rima!). Deliciosa! Este ano deixei-me de grandes invenções e só juntei açúcar e canela aos marmelos biológicos aqui do quintal. Para a semana a ver se faço mais. Mas, por favor, alguém me ensine a cortar marmelos aos quartos sem abrir os pulsos. Eh fruto mais rebelde! (Ou então é o jeito que é mesmo uma desgraça...)

8 de outubro de 2010

Tempo bera

Passo doze horas fechada na faculdade. Não sei o tempo que faz cá fora. Aulas, reuniões, grupos de trabalho, orientações, o dia corre sem que eu o apanhe. Ignoro que o Vargas Llosa já é Nobel. A crise passeia-se nas conversas de corredor. Sinto que estou cansada só quando saio e é noite lá fora.
Hoje acordo cedo, justo quando estava a dormir tão bem. Despacho o que há para fazer. Enfrento o temporal. Regresso a tempo de apanhar o sono. Deixo-me ir. Acordo com latidos contentes do Spotty que encontrou maneira de ir para a zona proibida do jardim. É tarde, muito tarde. Devia estar tão cansada que não dei conta de adormecer naquele desaprisionamento morno que nos cura o corpo e a alma.
Café amargo e fumegante, o de sempre. Ligo-me à net nesta biblioteca invadida pela luz cinzenta de um dia triste. Parece que há uma fórmula meio idiota para me calcular a redução salarial anunciada. Já contava com a pancada, não com matemáticas obtusas. Insisto em ler as notícias de um país moribundo e desnorteado. Desisto. Não há ideias. Não há nada. Há um Nobel da Paz lá fora. O vento acalmou. Vou buscar o Spotty que pensa ser o herói da batatolina no meio da relva molhada para onde não devia ter ido. O vendaval trouxe folhas castanhas e galhos partidos para o quintal. Esqueço-me de ir ver o correio. Regresso à biblioteca e à poltrona aconchegante. A luz cinzenta quebra-me ritmos e vontades. Contemplo o resto do dia. O imenso trabalho que tenho em cima da secretária. E esta luz pálida. O trabalho. A luz. A tristeza do dia num país que já nem é triste, um país em hibernação, olhando para o lado com medo de olhar para dentro.
Decididamente, hoje é um dia daqueles...

6 de outubro de 2010

Diários agrícolas: o meu pedaço de chão

O solo está crestado e áspero. Conjuro memórias de um passado abundante. Inalo o cheiro plácido de uma terra amena que me povoa um tempo ido. Havia pomares e vinhas, terra de pão e oliveiras que davam um azeite verde cristalino que se empastava na invernia. Lembro-me de vindimas e do cheiro a mosto na adega. Lembro-me do som distante de gentes que amanhavam aquela terra, esta terra cinzenta que agora piso e pela qual entro falando baixinho:

- Perdoa-me. Vou tratar de ti. Aceita-me de volta.

Os portões foram roubados. Uma parte do muro de cima ruiu. Vou ver os poços. Há água, muita, de um inverno húmido que deixou marcas. Mas tenho sempre medo daquela escuridão fresca com água parada que me reflecte a face que espreita a medo. Percorro a terra caminhando sobre grossos torrões revolvidos. Verifico marcos. As vedações também desapareceram.

- Venho aqui tomar-te de volta. Reclamo-te. Abraço-te.

Sinto-me a herdeira que não devia ser. Não ainda. Entro como proprietária. É cedo demais. Há doze anos que é cedo demais para eu ser herdeira do que quer que seja. Mas sou e é tempo, mais do que tempo, de tomar o pulso às coisas. Sinto que a Casa Grande já me vai correndo nas veias. A casa que me ocupa tantas páginas neste blog. A casa que também herdei cedo demais, tão grande que quase me afogou. Tão pesada que quase me asfixiava. Deitei paredes abaixo. Erigi outras tantas. Pintei e repintei. Destruí, restruturei, construí. Domei memórias. Apaziguei saudades. Convivi com ecos e portas fechadas. Fui um fantasma e vi fantasmas. É tempo de olhar noutra direcção. Continuar numa outra etapa deste luto doloroso e fazê-lo para continuar a seguir em frente.

Ali estão, estes hectares de chão que se declina suavemente pelo outeiro abaixo e se espraia numa várzea virada para o sol nascente. O meu pedaço de mundo. O meu legado tão precoce e violentamente caído nas minhas mãos. Venho reclamá-lo. É tempo de enfrentá-lo.

- Estou aqui. Vou cuidar de ti.

5 de outubro de 2010

Republicana até à medula

O que é estranho se tomarmos em consideração eu ter crescido a ouvir as histórias do exílio forçado do Sr. Dom Manuel e a fuga da Sra. Dona Amélia e a saber que havia uma bandeira monárquica escondida dentro do baú que se salvou das Invasões Francesas (de que eu agora sou a feliz herdeira), mas bandeira essa que soçobrou à traça e bicharada que tal antes de eu vir para Portugal. Ou seja, degenerei e beza-me Deus sou muito republicanazinha da minha alma.
Não é que a República tenha o glamour da Coroa e, sinceramente, acho qualquer monarca bem mais preparado para representar uma nação do que um presidente. Mas é a minha aversão medular a todo e qualquer processo que não envolva plebiscitos e contornos de democracia universal.
Se me perguntarem se concordo com o nosso modelo republicano, digo logo que não. Preferia um regime presidencial (e, nesta hora de crise, creio que se poupariam fortunas com esta macro-bicefalia do Estado e palácios/residências oficiais para PM e Presidente). Um Presidente com funções representativas e legislativas, uma boa e saudável Procuradoria-Geral da República e estava a coisa arrumada. Acho que temos cangalhada política a mais: ministros e secretários de estado, presidente, procuradoria, assessores em barda e para quê? Estamos lindos, não estamos? E depois, porque é que temos de ter um parlamento com 230 deputados para um país minúsculo de escassos dez milhões de habitantes que cabem todos, por exemplo, na cidade de Londres?

Enfim, hoje comemora-se o centenário da República Portuguesa. Feliz centenário! A ver se as coisas melhoram porque tu, pobre República, andas que é um enxovalho só.


4 de outubro de 2010

Em dia de ponte

Há gajas Blonde que lá se deslocarão à cidade grande para dar aula das 17.30 às 20.00. Desconfio que os tipos vão dar à sola mas ao menos o trânsito deve estar uma maravilha.

E porque é Dia do Animal:
- Abaixo as touradas;
- Para quando as penalizações à séria para quem abandona animais?;
- Para quando um país em que não existam matadouros clandestinos?;
- Para quando um país em que civismo também significa respeito por formas de vida distintas da nossa?

3 de outubro de 2010

Faulenzen

(Pronunciado fáulentzen) deve ser das palavras que mais gosto, em significado e som, da língua que me viu nascer. Faulenzen, preguiçar sem ser por preguiça, vontade de estar quieta a degustar a preguiça de um dia outonal. Acordar de mansinho com vento a uivar nas persianas e o som das goteiras a pingarem forte nos gradeamentos das varandas. Faulenzen. Ver um episódio de "Civilisation" regado a café amargo e quente, embalada na genialidade de Lord Clark, escolhido pelo David Attenborough para apresentador do programa: o primeiro a ser emitido a cores na Grã-Bretanha dos finais dos anos 60. Dürer, Cranach e os humanistas germânicos. Vejo as imagens de Wurttemberg e Würzburg e deixo-me ir entre goles de café, o som do vento lá fora, a cadência de "Civilisation" no DVD e as minhas próprias memórias.

Faulenzen e o dia que pede. O dia bom para "faulenzar" em peúgas de lã e manta no sofá. A cama por fazer. Sem pressa para o duche que acaba com preguiças mornas. Um livro a meio e o dia todo.

1 de outubro de 2010

Porque é Outubro e Outubro é Rosa

E a Kylie venceu o cancro da mama.

Porque a Mãe me morreu para vencer o cancro.

E porque haverá algo melhor do que ser-se despida/o?