13 de março de 2011

Protestar

Eu acho muito bem que se proteste. Aliás, a minha alma alemã eriça-se facilmente com o aforismo recorrente de que os portugueses são um povo de brandos costumes. Não os acho brandos nos costumes para ser sincera. Acho-os acomodados, resignados ante as circunstâncias, o que é algo ligeiramente diferente. E acho-os um povo de surdinas, falas e conversas críticas sussurradas com medo de ganhar voz e saírem do café ou do círculo próximo. Por isso, se saem à rua em manifestações apartidárias e ageracionais dão mostras da impaciência que sentem e que querem publicitar alto e bom som. Em suma, e em linguagem coloquial: acho bem.
Acho bem que se levante uma supra-voz farta com a falta de moralidade política e com o "desrumo", o desnorte deste país caído no abismo (porque a fase à beira do abismo parece-me já ter passado há que tempos). Onde não encontro razão neste protesto é que se confundam as coisas e que se partam de pressupostos erróneos de que as qualificações superiores signifiquem entradas directas no mundo do trabalho: um canudo não é um passe para um emprego e, salvo-erro, nunca foi.
Esta auto-intitulada "Geração à Rasca" diz-se a mais qualificada de sempre em Portugal. É. Mas isso significa que existirá maior competitividade no momento de encontrar emprego e competitividade significa, bem entendido, selecção. Sempre foi assim desde que Darwin inventou "the survival of the fittest" como prova de que a selecção se faz pelos melhores.
Devo ter, talvez, uma visão um pouco reaccionária; eu acho-a realista. Olho para estatísticas e constato que a média dos exames nacionais do secundário no distrito de Lisboa é de 11,09 e no Porto é de 10,87. Pergunto-me o que é que se faz com médias destas? Para onde se vai com médias destas? Enquanto não se olhar realmente para a educação com olhos de ver podemos ter muitos protestos de muitas "Gerações à Rasca", muitas Deolindas a cantar que "para ser escravo é preciso estudar" que não vamos a lado nenhum. Eu diria antes que para não se ser escravo é preciso estudar... muito.
No resto, não tenho grandes discordâncias: a situação macro neste país é realmente deplorável. E envergonho-me por nos sentir uma democracia garroteada.

2 comentários:

António de Almeida disse...

Muitos querem apenas abrigo debaixo do nanny state, direitos que não têm, porque a existirem, custariam dinheiro a outros, que teriam que os pagar... O que precisamos é estado a menos, para que a necessidade promova, a arte e engenho que poderão levar o país para a frente...

JOY disse...

Olá Blonde,

Ñão poderia estar mais de acordo, a malta não compreendeu que não basta ter uma licenciatura, muita vez tirada com uma nota a roçar a negativa e a não perceber bem qual a utilização dessa mesma licenciatura,não perceberam que a posse de uma licencitura não lhe daria automáticamente acesso a um bom emprego, muitos dos progenitores tem também culpas no cartório ao quase obrigarem os filhos a terem uma licenciatura, não se importando com a forma como a mesma foi obtida nem com a sua utilidade, e agora é o que vemos.

Joy