29 de abril de 2012

Um breve instante, talvez por causa do Miguel Portas

Durante muito tempo pensei, a cada dia, que era um dia a menos para voltar a estar com a Mãe. O Tempo e o algures a meio do percurso foram fazendo com que deixasse de pensar nisso. Os dias acumularam-se em anos e ontem, num instante fugaz, enquanto subia as escadas para me ir deitar, pensei quão menos me falta para voltar a estar com a Mãe. De súbito, a soma dos anos tornou-se um pecúlio significativo. Fiquei feliz pelo menor tempo que falta, pelo tanto que entretanto passou e por eu me ter apercebido desse menos que falta e ter sentido alívio.
Acho que voltei a pensar no tempo que me falta ainda e a menos por causa da família que o Miguel Portas aqui deixa. Três anos mais novo do que a minha Mãe. Os filhos que serão adultos sem ele, como eu e a Mana nos fizémos adultas sem a Mãe. Aquela outra mãe que enterra um filho. O eu ter estado há tão pouco tempo circusntancialmente com o pai que agora enterrou este filho. O eu ter devorado um dos vídeos do Miguel Portas para a tese longínqua de mestrado e o Preste João que ele foi procurar na Etiópia e no Iémen e do qual eu também andava à procura para o encontrar mais abaixo.
Sim, acho que pensei no Tempo e no tempo a menos que me falta porque, sem saber como, e de repente, todos conhecíamos aquele homem e a perda pública também se reflecte na nossa individualidade.

28 de abril de 2012

Cavaleiro da Dinamarca

O meu sobrinho estreou-se hoje na internacionalidade desta família e a Tia está toda contente. Ontem, dei-lhes a boa viagem dizendo que eram os três, mãe, pai e infante, "Cavaleiros da Dinamarca", uma vez que era para lá que iam. Resposta pronta do meu cunhado perante a parafernália de tralhas que uma viagem com um bebé acarreta:
- Cavaleiros não! Cavaleiro e respectivos cavalos!
Amei!

27 de abril de 2012

Porquê estragar?



Mas porque é que se estragam canções perfeitamente decentes com vídeos desnecessários? (Ou porque é que me deu para olhar para o VH1?)

25 de abril de 2012

Ao lume

Deram-me duas toneladas de lenha; nunca pensando, nem eu nem quem mas deu, que arderiam ainda este ano. Está farrusco, frio e feio. É Abril e o fogo arde. Lareira fora de época. Mas não fossem os tições e as chamas e o dia ainda estaria mais farrusco, mais frio e mais feio. 

23 de abril de 2012

Porque há gente que pensa e os tempos são perturbadores

Li hoje no i a entrevista ao pensador holandês Rob Rieman e é do melhor que tenho lido por entre o ruído de uma sociedade em crise, regida pela mediocridade e pela passividade. Uma sociedade estranha ao presente porque lembra tempos que pensávamos passados.

Aqui.

Excertos:
- O medo da elite comercial é que as pessoas comecem a pensar. Porque é que os regimes fascistas querem controlar o mundo da cultura ou livrar-se dele por completo? Porque o poeta é a pessoa mais perigosa que existe para eles. Provavelmente mais perigoso que o filósofo. Quando usam o argumento de que a cultura não é importante e de que a economia não precisa da cultura, é mentira! Isso são as tais políticas de ressentimento, um grande instrumento precisamente porque eles nos querem estúpidos.
- O perfeito disparate de que todas as nações europeias não podem ter um défice superior a 3% é pura estupidez económica. Temos de investir no futuro. Como? Investindo numa educação como deve ser, que garanta seres humanos bem pensantes e não apenas os interesses da economia. Investindo na qualidade dos media... O dinheiro que demos aos bancos é milhões de vezes superior ao que é preciso para as artes, a cultura, a educação...

22 de abril de 2012

Pensei que tinha morto as roseiras

Quando as podei em Janeiro pensei que era o fim delas e agora ei-las que ressuscitam e eu tão contente com a proeza de as ter podado. 

20 de abril de 2012

Não sei se gosto

das novas páginas de edição do Blogger. Não é uma chatice esta coisa de sucessivas mudanças de layouts em tudo o que é remotamente tecnologia da informação? Não há pachorra.

16 de abril de 2012

Comboio Nocturno para Lisboa

Nachtzug nach Lissabon foi o original que me veio parar às mãos há talvez uns cinco anos. E um alemão que me perguntava insistências sobre Eça e Pessoa porque o estava a ler e veio cá. Depois um dia, anos depois, fui ao Porto de comboio (eu que nunca ando de comboio) e quando desembarquei na Estação Oriente, entrei na Bertrand só porque sim. Vi a tradução: Comboio Nocturno para Lisboa e comprei-a; acho que me fazia sentido comprar um livro cuja acção é possível só porque há uma viagem de comboio e porque, há muitíssimos anos, nos tempos gloriosos do Inter-Rail eu fiz o percurso inverso. Li com outra atenção a tradução sem também saber porquê. Engraçado como aprendo e vejo sempre tanto de Lisboa através dos olhos dos estrangeiros. Aconteceu isso com este Pascal Mercier que assina o livro e aconteceu também com o John Berger e o seu Hier, wo wir uns begegnen, que eu presumo no original seja Here is where we meet, cujo enredo começa num jardim de uma Lisboa no Verão.
Agora está aqui o Jeremy Irons, outra vez. Vem gravar a adaptação cinematográfica do Comboio Nocturno para Lisboa. Espero que lhe saia um filme melhor do que o último que cá gravou, A Casa dos Espíritos, e creio que, como a personagem que vai representar, é outro estrangeiro que sucumbe a esta cidade branca (e cidade branca é como o John Berger lhe chama) debruçada sobre as margens de um largo rio de plácidos azuis. Uma cidade que me dá saudades quando me vou embora, uma cidade que sendo-me ainda estranha, é-me casa à distância.

13 de abril de 2012

Ouvi hoje que esperam de mim o fim da linha

Saiu natural numa conversa coloquial:
- Já que não tiveste nenhum, a ver se agora a tua irmã tem mais outro que é para arranjares herdeiros.

Ouvi a naturalidade da frase e foi esse desconstrangimento que me fez pensar, enquanto ouvia, que já ninguém mais espera que eu me propague. É como se a pressão se começasse a esvair e este fosse o primeiro sinal. Penso se outras pessoas pensam o mesmo: que eu nunca terei filhos e que isso é ponto assente. Acontece que eu ainda não sei se tomei essa decisão ou se a vida ma impôs ou se, quem sabe, o fim da linha ainda não seja este.
Ouvi a naturalidade daquelas palavras e percebi outras coisas, coisas que penso habitualmente, coisas tão comezinhas como quem me herdará. Não sei se um dia não me vou desfazer, por necessidade ou capricho, dos legados que recebi. Ignoro esse futuro. Mas, e se eu não alienar nada, quem vai ficar com isto? Pela lei natural a minha irmã nunca me sobreviverá muito tempo, e o que penso é que será o meu sobrinho, ou os que entretanto nascerem, como parece andam a vaticinar para ela, que serão meus herdeiros universais.
Seja como for, hoje ouvi coisas muito reveladoras do que os outros interiorizam da minha vida: que está esclarecido que não terei filhos, que tenho um legado que as pessoas sabem e que a questão da sua transmissão lhes passa pela cabeça. Engraçado como, de súbito, conseguimos vislumbres do que os outros pensam de nós. Até aqui o assunto dos meu não-filhos era sempre a pressão para tê-los para que tivesse quem me herdar as coisas, agora é como se houvesse uma rendição à pseudo-evidência de que eu não me vou multiplicar continuando, porém, a questão da minha sucessão. Entendo disto tudo que a sociedade tem preocupações muito materialistas e que o que "temos" é porventura mais importante do que o que "somos" e que é, de facto, o que "temos" que importa legar.

Estou meia estranha.

11 de abril de 2012

Vi o meu sobrinho a andar sózinho

Vi o meu sobrinho a andar sózinho e achei estranho. Engraçado como tenho ansiado pelo momento em que o visse andar desamparado e como, de repente, no repente em que ele se lançou no espaço vertical, achei aquilo uma coisa tão estranha. Deu-me medo e percebi quando oiço que digam que ter filhos é andar com o coração nas mãos. Não é meu filho mas é o mais próximo que tenho disso e foi com o coração nas mãos que o vi no súbito do andar desprendido. Dois dias depois habituei-me que ele anda, ainda que não imagine como se trava.
Surpreendo-me a cada conquista dele e percebo como tudo tem de ser conquistado, do mesmo modo que me apercebo que o tempo da infância corre veloz e sem travões. É preciso haver um bebé para nos apercebermos de milhões de coisas que temos por garantidas.
Benvindo, Manel, ao mundo dos que andam. Vai ser bom correr e explorar este novo mundo que se abre assim: sem fronteiras.

10 de abril de 2012

No silêncio

Silêncio é talvez o que a minha alma mais necessita de vida. Porque só no silêncio ouvimos o muito que há para ouvir. E só no silêncio ouço esta Casa de ecos. Quando eu era mais nova tinha medo dos silêncios desta Casa que me infundiam de um pavor aterrador como se albergassem o Além que estava sempre a um passo de ser descoberto. Lembro-me d epensar que me seria impossível viver aqui sózinha um dia.
Até que o dia chegou, por tragédias e ironias inusitadas do destino, e eu fiquei aqui, dona e senhora do espaço. A solidão espantou-me o medo injustificado e, no paradoxo, passei a dar-me bem com o silêncio denso que aqui habita e se faz, porventura, a maior presença desta Casa.

8 de abril de 2012

Tiramisú à la Blonde

Com o dia lindo e a pedir sobremesas mais fresquinhas, fiz para a Páscoa um tiramisú do mais inventado que imaginar se possa (e, afinal, quem nunca inventou uma receita de tiramisú, hum?). Eu bem sei que isto começa a parecer um blog de receitas mas (ainda) não é...

Ingredientes:
1 chávena de chá de café forte
2 colheres de sopa de Madeira
1 pacote de natas (200ml)
1 1/2 embalagens de mascarpone
2 colheres de sopa de açúcar
Palitos de la reine (+/- 24)
1 pitada de baunilha em pó
chocolate em pó para decorar

Misturar o Madeira no café e deitar o preparado num prato fundo. Bater as natas com o mascarpone, o açúcar e a baunilha até ficar consistente (se não ficar muito consistente não faz mal porque depois a refrigeração faz o resto). Embeber cada palito de la reine na mistura de café e Madeira e dispor uma camada num pirex. Por cima da camada de palitos de la reine verter a mistura do mascarpone e natas e barrar. Repetir as camadas acabando com a de natas. Levar ao frigorífico por umas horas. Antes de servir polvilhar com pó de chocolate peneirado.
Super fácil!

6 de abril de 2012

Tártaro de Salmão para Sexta-feira Santa

Para o jejum Quaresmal, aqui fica a minha última pseudo-invenção culinária inspirada na Barefoot Countessa.
Como é tártaro de salmão, o peixe deve ser o mais fresco possível (usei ultracongelado em doses individuais higienizadas).

Ingredientes:
1 posta de lombo de salmão fresco
2 fatias de salmão fumado
Sumo de 1 limão
1 colher de sopa de mostarda Dijon
1 colher de sopa de alcaparras
Cebola picada a gosto
Pimenta a gosto
Endro picado a gosto

Cortar o salmão fresco em cubinhos. Cortar o salmão fumado em pedacinhos e misturar ao salmão fresco. Misturar no salmão os restantes ingredientes e levar ao frigorífico. Servir fresco sobre fatias tostadas de pão.
Boa Páscoa!

4 de abril de 2012

At Home: o meu vício por estes dias

At Home: A Short History of Private Life, Bill Bryson.
Trouxe-o da Inglaterra numa destas últimas vezes e tem andado na pilha dos livros a ler. Comecei, eu que ADORO Bill Bryson e que devo ter os livros quase todos (verdade, se não conhecem comecem). Este novo livro é tão viciante mas tão viciante que ando a deitar-me para lá de horas cristãs.
Sabiam, por exemplo, que se começaram a vender mais jornais a partir do momento em que houve luz eléctrica? Faz sentido mas nunca nos lembrámos disso. Sabiam, também, que se inventaram as salas de jantar para não se sujarem as salas de estar a partir do momento em que se inventaram os sofás? É que os tecidos dos sofás são, naturalmente, o diabo para limpar. E porque é que os garfos têm quatro dentes e não três ou cinco?
Ao estilo David Attenborough, Bryson faz o tour da casa por divisões e em cada uma fala das coisas que a compõem e a sua história. Fascinante e, como sempre, só o Bill Bryson para relatar com doses bastantes de humor o mais secante dos temas.
Depois deste At Home, acho que é impossível não olharmos para as nossas casas com outros olhos.

3 de abril de 2012

Pão de Mugron

 A ideia para este pão vem de Mugron, no País Basco francês. Aterrei lá sem saber como e tinha o Hemingway à espera, porque era numa crónica do Hemingway que eu me senti naqueles dias de festa e paganismo de touros e feiras. Encantei-me com o pão e prometi-me que ia tentar fazer um dos que eu mais gostei: pão com queijo de cabra e figos. Quase um ano depois tentei (à minha maneira e sem o brebis mas com mozarella).

Para máquina de pão
Ingredientes:
300ml de água
50ml de azeite
100grs. de farinha de centeio
400grs de farinha de trigo
Óregãos a gosto
1 col. de sopa de mozarella ralado
1/2 saqueta de fermento
10 figos secos cortados em pedacinhos
2 cols. de sopa de maozarella ralado

1. Colocar pela ordem indicada todos os ingredientes na máquina e reservar os figos cortados em pedaços e duas das colheres de mozarella ralado. Carregar no botão do programa normal.
2. Quando o programa apitar a meio da amassadura, juntar os figos embrulhados num pouco de farinha para não "afundarem" na massa.
3. No momento em que o programa estiver na parte da assadura, polvilhar com o mozarella para o pão ficar com um ar douradinho.


1 de abril de 2012

Acabei algo

Acabei algo que nunca pensei começar. Acabei algo que me levou numa viagem a um lago amniótico, simultaneamente quente e escuro. Enviei um mail e fiz um telefonema porque não podia guardar só em mim que acabei este algo aqui dentro desta casa. Acordei a saber que ia acabar hoje. Levei horas a preparar-me porque me faltava uma centelha qualquer que me fizesse sentar neste silêncio e neste espaço e acabar. Saiu rápido, tão de súbito que mal me dei conta. Saiu com pressa que eu não pude apanhar. Ainda há coisas que desconheço. E ainda há muito por fazer.
Não sei onde vai dar, o que é que vai dar. Sei apenas que o fiz e, mais que não seja por mim e pelos fantasmas, está feito.
Acabei algo...

Creme de favas

Quando eu fiz creme de ervilhas e, feliz com a proeza, aqui deixei a receita, a minha querida Ältere Leute disse que ficava igualmente bom com favas. Tinha absoluta razão! Obrigada, es schmeckt lecker!

Ingredientes:
1 kg de favinhas (usei das congeladas)
1 cebola grande
1 molho de coentros
750ml de água
1 fio de azeite para temperar.

Cozer as favas com a cebola. Quando estiverem cozidas juntar os coentros picados e o azeite. Reduzir a puré.
Nem há nada mais fácil!