27 de abril de 2015

Crivo: before and after


Aproveitei as sestas dos meus sobrinhos que cá vieram passar o fim-de-semana para me entreter com um projecto de DIY que me libertasse a cabeça e não me fizesse pensar. Fui ao sótão da garagem (essa caverna de Ali Baba) e encontrei um crivo antigo que me deu ideias. Pintei-o e agora está pendurado a decorar a entrada da casa.

25 de abril de 2015

Da felicidade do epílogo num dia bom

Gosto sempre deste reencontro. Digamos que é um daqueles momentos altos no ano, um momento estabelecido em tradição, um ritual que marca ciclos e a circularidade da vida.
Este ano tivémos de adiar: a vida, claro, e o meter-se no meio de planos só para nos confundir. Foi Natal em fins de Abril com águas miúdas mil a borrifar o encontro, quiçá se a lembrar os nossos habituais Dezembros.
Cheguei já ela me esperava, ainda que eu não estivesse atrasada. Costuma ser assim. A primeira coisa que os olhos queriam era ver se ela estava igual a sempre ou se havia mudança pelo tempo e circunstâncias que nos adiaram o encontro. Descansei. O mesmo que os olhos viram naquele instante ainda antes de lhe dizer olá e de dar o abraço adiado sossegou o coração no descanso confortável que diz "está tudo bem".
Novidades a jorro, a conversa que flui com muito para dizer e o meu pensamento, neste dia em particular, a lembrar-me que ela vem comigo desde um passado feliz. Conheceu-me quando eu tinha o meu nome verdadeiro, a minha família intacta, a vida que me despontava, a juventude em aberto. Foi-me importante e foi ficando e eu com ela. Depois veio a Morte, seguida do meu casamento desastrado e do meu pior calvário para o divórcio. E ela sempre a continuar em presença e os nossos lanches e almoços e conversas condensadas no muito que temos sempre para dizer.
- Ao recomeço. - Diz ela, dando-me mensagens de amor de um Portugal tradicional e antigo e inocente. E ela nem sonha que hoje, neste dia em particular, o recomeço tem um significado tão exaltado.
Faz hoje, exactamente hoje, anos que casei desastradamente. Convidei-a mas ela não veio. Hoje agradeço a não sei que estrela da Providência que a Mãe estivesse morta e que ela não tivesse vindo. Nem uma nem outra assistiram fisicamente ao holocausto que simbolicamente vejo ter sido o dia do meu casamento condenado. Mas ela hoje está comigo e está comigo justo no dia em que vou buscar o meu novo cartão de cidadão, onde voltei a ter o meu nome verdadeiro e a sentir-me Eu. Sim, vou buscá-lo assim que a deixar. Acho que me despeço numa pressa pouco habitual. Não sei se ela repara ou não. Mas sei que me vai perdoar: tenho uma pressa visceral em ir buscar o meu cartão novo com a minha identidade que conheceu um tão nefasto interregno. Podia ir buscá-lo na segunda-feira, mas não conseguirei segurar a ansiedade de me ter de volta por mais dois dias.

Minha querida Ältere Leute,

No dia 24 de Abril de há muitos anos não esteve comigo, mas esteve hoje, neste mesmo dia, no dia em que volto a ser eu oficialmente. Não imagina o que isso tem de significado para mim. Não lho consegui dizer presencialmente porque não queria fantasmas de memórias a ensombrar as poucas horas que estávamos juntas e porque, às vezes, as coisas realmente profundas encontram melhores palavras e mais fáceis verbalizações na escrita. Ontem foi um aniversário mas foi também um dia zero de muitos dias que virão.
Fui muito feliz nesta coincidência e mais gostei de estar consigo neste dia. O meu passado bom materializado presente.
Na foto que aqui deixo, há uma palavra que fotografei de propósito, "feliz", porque é feliz que estou, porque é feliz que esta amizade me faz. Fico à espera do nosso próximo encontro. Até lá, obrigada por ser quem é: gosto muito de si hoje e sempre.

Um beijinho,
Blonde

22 de abril de 2015

O que é que aconteceu ao FC Porto?!

Como boa adepta do Borussia Mönchengladbach estava na boa a achar o máximo o Porto ter batido o Bayern (ainda que o meu Benfica me faça anti-portista medular). Nem liguei que ontem houvesse jogo. Eis senão o pasmo de ter aberto agora o jornal...
6-1?!
6-1?!

17 de abril de 2015

Já tenho nome!!!!!!!!!!!

Isto de escrever o epílogo do meu fenomenalmente longo, absurdamente patético divórcio tem sido tão estapafúrdio e longo como escrever o processo do divórcio em si.
A semana passada fui renovar o meu cartão de cidadão porque está a caducar e eu vou ter várias viagens no horizonte próximo e preciso do cartão de cidadão para também renovar o passaporte. Apesar de divorciada em Janeiro, ainda tive de renovar o cartão como casada e com o nome de casada. Mais papéis para os advogados, mais coisas a juntar ao processo que vai para o Tribunal dos Direitos do Homem, mais diligências para o tribunal e para os registos, a continuação da trapalhada.
Bom, hoje fui levantar o cartão. Na Conservatória já não me podem ver de tantas vezes que lá tenho ido nos últimos tempos a pedir cópias do meu assento de nascimento a confirmar o não averbamento do divórcio. Eu farta. As senhoras da Conservatória fartas. E eu danada por ter um cartão de cidadão novo com a vida do antigamente, o nome do antigamente, o estado civil do antigamente. Tudo coisas que me deixam particularmente feliz.
Não sei que circunstância cósmica ali se deu, mas uma das senhoras da Conservatória teve a ideia de ali mesmo, e à revelia dos omnipotentes Registos Centrais, fazer à unha uma mudança no meu assento de nascimento que não passasse pelos nefandos ditos cujos (não esqueçamos que eu tenho naturalidade alemã, o que ajuda sempre a qualquer interacção minha com a sacrossanta burocracia).
Em menos de cinco minutos fiquei "divorciada" e sem o apêndice doloroso do nome da minha anterior vida. Passei logo para a máquina dos retratos e a tirar novas impressões digitais para o meu novo cartão de cidadão perante a estupefacção do povo presente e minha também: afinal não é todos os dias que uma pessoa renova o cartão de cidadão no dia em que recebe o novo.

Ele há coisas que nem vale a pena tentar perceber...

Mas uma coisa é certa: hoje há champanhe cá em casa e o ponto final do epílogo está cada vez mais próximo. Estou feliz...  

15 de abril de 2015

Günter Grass (1927-2015)

Nunca fui grande fã da sua escrita literária mas sempre apreciei as suas opiniões. Nunca o julguei por participações na Guerra ou no regime da Guerra porque era uma fatalidade da sua geração (quantos eu não conheço, ou conhecia, nessas circunstâncias). As minhas Tias viveram a face da opressão, o outro lado da moeda, as execuções e as fugas, Grass e tantos e tantos outros homens viveram arrastados para o militarismo e a brutalidade: de um lado e do outro o medo e o trauma que lhes ficou por sobreviverem àquilo. Se calhar é por isso que nunca, a não ser por obrigação de cultura e educação, consegui ler Grass com vontade. Ao invés, foi sempre com prazer que lhe lia as entrevistas e as opiniões: a voz do Eu em directo que falava de coisas com que me identifico e coisas com que vivi.
Mais recentemente li-lhe uma que partilho descontextualizada mas que acho que é auto-inteligível nestes tempos apressados:

„Wenn jemand 500 Freunde hat, dann hat er keinen.“*

Olho para a morte dele como olho para a morte da Tante Henny e a proximidade da da Tante Ruth: é mais um que vai e mais longe fica aquele tempo e mais nos vamos esquecendo de que aquilo aconteceu.
RIP.

* "Quem tem 500 amigos, não tem nenhuns."

13 de abril de 2015

A despontar

Este ano vou fazer uma viagem de sonho (ainda que todas as viagens sejam sempre de sonho) e, enquanto o dia não chega, vou sonhando acordada neste sonho de paisagem com as videiras a despontar e o campo feito mar de verde.

4 de abril de 2015

Páscoas na Páscoa

A Mãe é que me ensinou que as flores amarelas que nos cobrem os campos nesta altura se chamam Páscoas.
- Porquê Mãe?
- Porque aparecem pela época da Páscoa.
E todos anos é a mesma coisa, vejo os campos e as páscoas e lembro-me da Mãe.
Giestas, páscoas e o sentimento contente de viver aqui.
Páscoa feliz!

1 de abril de 2015

Algo de sublime

Há algo de poético e de sublime numa caixa de morangos num dia de sol. Fascina-me sempre e é também por isso que permaneço portuguesa.

- Podias voltara reclamar a cidadania. As leis mudaram - informam-me uns amigos alemães que cá vieram passar o fim-de-semana.
- Não... Já não... - e dou-lhes morangos com cor de morangos e sabor de morangos. Disto não há lá.