15 de abril de 2015

Günter Grass (1927-2015)

Nunca fui grande fã da sua escrita literária mas sempre apreciei as suas opiniões. Nunca o julguei por participações na Guerra ou no regime da Guerra porque era uma fatalidade da sua geração (quantos eu não conheço, ou conhecia, nessas circunstâncias). As minhas Tias viveram a face da opressão, o outro lado da moeda, as execuções e as fugas, Grass e tantos e tantos outros homens viveram arrastados para o militarismo e a brutalidade: de um lado e do outro o medo e o trauma que lhes ficou por sobreviverem àquilo. Se calhar é por isso que nunca, a não ser por obrigação de cultura e educação, consegui ler Grass com vontade. Ao invés, foi sempre com prazer que lhe lia as entrevistas e as opiniões: a voz do Eu em directo que falava de coisas com que me identifico e coisas com que vivi.
Mais recentemente li-lhe uma que partilho descontextualizada mas que acho que é auto-inteligível nestes tempos apressados:

„Wenn jemand 500 Freunde hat, dann hat er keinen.“*

Olho para a morte dele como olho para a morte da Tante Henny e a proximidade da da Tante Ruth: é mais um que vai e mais longe fica aquele tempo e mais nos vamos esquecendo de que aquilo aconteceu.
RIP.

* "Quem tem 500 amigos, não tem nenhuns."

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