1 de junho de 2017

Salamanca: As chaves e o diabo

Tinha lido, nesses prospectos turísticos a que uma pessoa deita o olho antes de sair em viagem, que ia ver muitos cadeados em Salamanca. É verdade. Diz-se que são cadeados de amor, juras eternas que chave nenhuma poderá abrir. Atribuo a tradição a uma cidade de estudantes. amores jovens e ingénuos de quando se pensa que a Vida é imutável e o amor eterno. Há uns anos poderia ter acreditado nessas coisas. Agora racionalizo-as à distância com que a Vida me vai colocando de tempos ingénuos e olho para os cadeados como curiosidades, puerilidades quase, que vejo apenas e só com olhos de turista. E depois há o diabo.
Conta a lenda que o diabo aprecia numa cova numa viela húmida aqui em Salamanca. Prometia coisas de diabo: conhecimento, saber, a altivez da sabedoria, essa altivez tão tentadora. O homem sucumbe porque é da sua natureza sucumbir e o diabo alegra-se por nos saber tão fracos de espírito, tão crédulos e tão tolamente ambiciosos. Fausto não era só alemão. Faustos estão em todo o lado e, numa cidade dedicada à Universidade e à Catedral, que sítio melhor para encontrar o diabo e as suas tentações de sabedoria e imortalidade? que sítio mais apropriado à tentação laica e à tentação religiosa? Que sítio mais sublime para o diabo?

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